Conto de Natal no Cachambi

O dia mais triste da minha vida foi quando eu deixei de acreditar no papai Noel. Foi aos nove, em um shopping da zona norte do Rio. Eu sei que, para muitas crianças, é chato descobrir que o bom velhinho é só o seu pai vestindo uma barba falsa, comprada no camelódromo. No meu caso, o mundo desabou. Não conheci meu pai. Conheci os tios Claudio, Damião, Gerson, Gilson, Nonô, Alcides, Arnaldo, Roberto e Rubens (esse último foi promovido de meu professor de judô a tio). Alguns me batiam, outros nem me enxergavam, uns fingiam gostar de mim. O tio Damião até consertou meu autorama com um pedaço de bombril, mas ele falava cuspindo e hoje eu acredito que a sua saliva era o motivo do curto-circuito no carrinho preto. Somando-se a isso o fato de minha mãe não ter irmãos e seus primos morarem em Alagoas, conheci poucos homens na minha infância. Um único era bom. Noel era incrível, foi com ele que aprendi que o título de papai era muito superior ao de tio. Tão logo entrava dezembro, a casa tro...