A Vitória de Sísifo

Pela manhã, o humor de Rute harmonizava com o seu café sem açúcar, há anos o único alimento que ingeria. Quando Ari se levantava da cama, o relógio interno da mulher marcava o tempo para a vingança. Por cinco anos, ele se deitou na cama de Leila, e isso legitimava as pequenas vinganças diárias. Na manhã de quinta—feira, Rute arremessou o p rato sobre a mesa e sentou-se para ler o jornal, como fazia habitualmente. — Você cortou na vertical de novo, mulher? Você sabe que eu gosto na diagonal. — Então dá para a Susie. Ela come em qualquer posição – disse, apontando na direção da velha poodle branca, que já se confundia com a mobília da casa. — Velha tinhosa! O que custa me fazer o diabo de um misto-quente como qualquer padaria desse país? Rute bebeu mais um gole do café, em uma caneca que escondia covinhas-de-quem-ri-de-um-tropeço, dobrou o jornal como se dobrasse um papel de presente e saiu pela porta. Ari tirou a casca de cima do pão de forma e deu para a cadela. Parecia...